segunda-feira, 12 de março de 2012

Para entender as mulheres




Trilha sonora: “ Ribbons Undone” (música que Tori Amos compôs para a filha)

“Com todo o perdão da palavra, eu sou um mistério pra mim. E eu suponho que me entender não seja uma questão de inteligência e sim de sentir, de entrar em contato. E nem eu me entendo, pois sou infinitamente maior que eu mesma, eu não me alcanço. Mas eu fui obrigada a me respeitar, pelo fato de não me entender. Qual palavra me representa? Uma coisa eu sei: eu não sou o meu nome. Meu nome pertence aos que me chamam.”
–Clarice Lispector

“Sou como você me vê. Posso ser leve como uma brisa ou forte como uma ventania, depende de quando e como você me vê passar.”
–Cecília Meireles

Para se entender uma mulher, você precisa ler Manoel de Barros e saber dissertar sobre o cisco, falar com pedra, dominar a arte das miudezas e deixar o dia em “condições de boca”. Ler Guimarães Rosa para inventar uma língua que só ela entenda. E Miranda July, claro.

Entender que o local onde você coloca a pimenta no seu hamburguer faz toda a diferença. Experimentar e se deliciar com cada sentido e suas possibilidades. Estudar música, manjar de ritmo, tocar algum instrumento para entender que mulher se move em 3/4 ou 12/8 – igual a canção de Tori.

Você precisa entender que mulher é coisa feita de chuva, vento, fogo, mar, areia. De terra. De fruta (mulher se come). De cheiro. De guaraná e Viagra (mulher causa ereção). De céu e Sol (mulher clareia). De nuvem. Para se entender uma mulher, é preciso pisar descalço na grama molhada e depois deitar e imaginar seres mais reais que você e eu.

Você precisa entender que mulher não é livro, enigma, mistério, problema matemático, sonho psicanalítico, arquétipo junguiano ou mapa astral. Mulher não se interpreta. Mulher não se resolve. Mulher não se lê. Freud, Sherlock Holmes, Fermat e Harold Bloom não explicam. Se quiser saber, a última coisa que você deve fazer é tentar entender, adivinhar, solucionar ou perguntar. Talvez ela mesmo não saiba. Talvez ela fale algo que não é bem certo. Elas não mentem, só alternam verdades (é por isso que com mulher se dança).

Para entender uma mulher, você precisa esquecer o que é uma mulher.

É preciso chamá-la sem antes lhe perguntar o nome. Enxergá-la nua. Sempre. Em vez de adivinhar o desejo dela, oferecer o seu. Antes de entender, antes de ler, é preciso saber escrever uma mulher.

Você precisa entender, para se entender uma mulher, que o sabor da picanha só existe dentro da sua boca, que o som das fugas de Bach só nasce quando chega aos seus ouvidos, que a textura da mesa não tem realidade na ausência do toque. Uma mulher não é nada antes de seu encontro com coisas, seres e mundos. Então, para ver o feminino lá fora, é preciso atuar aí dentro. Agir. Para fazer nascer uma mulher, é preciso ser homem.

Para entender uma mulher, enfim, você precisa fazê-la suar, digo, faze-la sua mulher.

Um comentário:

  1. Espetacular!!!
    E, só para registrar aqui algumas palavras também femininas...
    Eu diria que entender as mulheres não seja a principal questão, mas, senti-las e oferecer-lhes condições para que elas simplesmente possam existir e acontecer... em tom, cor, perfume, toque, encanto, presença, rastro, melodia, ato, silêncio... e, sim, para tentar entender (e não digo em termos racionais) uma mulher, é preciso com ela dançar... e simplesmente estar...

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